domingo, agosto 03, 2008

da possível série CONTOS DE ESCÁRNIO

Tarde da noite, numa praça suspeita e deserta:
-Psiu. Psiu. Sou eu.
-Nossa, não pensei que fosse você! Trouxe o dinheiro?
-Sim, como você pediu: Notas de 100 não sequenciais. Tem certeza de que não é possível um desconto? É um bocado de grana!
-Sem chances! Você sabe o que pode me acontecer se eu for descoberto... Alto risco, alto preço.
-Está bem. Mas como posso ter certeza de que está tudo aí?
-Não pode. Terá que confiar em mim.
-Confiar num canalha é suicídio!
-E com quem mais você conseguiria isso? Ora, faça-me o favor!
-Ok, ok... Não tenho mesmo outra alternativa.
-Talvez tenha.
-E qual seria?
-Sei lá... Confesso que você me surpreendeu. Achei que fosse mais... ou melhor, que fosse menos...
-Quer ir direto ao ponto, por favor! Achou que eu fosse mais ou menos o quê?
-Menos gostosa. - E sorri.
-Sei, sei... Tem certeza de que vale mesmo a pena essa grana toda? Você me garantiu que a papelada é nitroglicerina pura!
-Claro que vale!
-Espero que valha mesmo. Estou me sentindo literalmente assaltada.
-Mas, veja bem, antes de fecharmos o negócio, gostaria que considerasse algumas possibilidades...
-Que possibilidades?
-Até onde se sabe, isso nunca foi feito. Esse manual tem se mantido na confraria desde o início dos tempos. Não se sabe ao certo que efeitos pode causar num não-iniciado. Considerou a possibilidade de efeitos colaterais?
-Efeitos colaterais??? Como assim?
-Claro! A posse e a leitura dessas instruções pode detonar tendências adormecidas e transformá-lo num canalha completo. Creio que isso seria desastroso para os seus objetivos. Poderia economizar a grana e pegar um já pronto. Há tantos no mercado... Eu, por exemplo, ainda tenho lugar na agenda... - Sorri maliciosamente e dá uma piscada.
-Você veio aqui pra me vender essa porra ou pra me cantar? Quer a grana ou não?
-Quero a grana, mas mesmo um canalha tem seu código de ética. Não quero que me procure mais tarde dizendo que lhe enganei!Tem outro ponto a ser considerado. Se ele for mesmo lerdinho como você diz, pode não funcionar.
-Essa grana toda e pode não funcionar?!
-Sim, nada garante que funcione. Há teorias que dizem ser necessária uma predisposição genética associada a um meio que forneça as experiências adequadas. Não é nada comprovado, mas há teorias...
Já pensou? Gasta uma grana preta e acaba com um canalha comum ou um bom-moço lerdinho, sem pegada, sem borogodó, abarrotado de informação inútil?
-É...
-Então... Pense bem... Eu, particularmente, acho que se o cara é ruinzinho na coisa como você diz, não vai adiantar. Safadeza não se aprende, vem ou não vem de fábrica. Você acabaria achando patético um santinho lerdo tentando fazer cara de safado. Sei não... É capaz até do tipo precisar ficar com o manual do lado, pra consultar entre uma posição e outra, e ainda pedir pra você pegar para ele os óculos de leitura. - Ele gargalha.
-Pior é que é... - Suspira desolada.
-Já imaginou quantas horas de motel com hidro, acessórios e champanhe essa grana pode comprar?
-Já. Mas ele é tão bonzinho, tão gostoso, tão inteligente, culto, sincero, companheiro... Nunca conheci ninguém como ele. E ele quer namorar! Sabe quanto tempo faz que não conheço alguém que queira namorar? E ainda por cima é fiel!
-Ruim de cama como ele é, tinha que ter alguma qualidade, né? - Ri estrondosamente. -Você é quem sabe ... Quer perder tempo e grana adestrando o lerdinho, perca. A grana é sua. Mas com esse corpão e esse fogo, eu gastaria essa grana toda em lingeries. - Sorri e se aproxima puxando-a pela cintura, no melhor estilo vem-cá-minha-nega.
-Canalha... - Sorri. - Você é dos que sabe como pegar numa mulher. - Sorri novamente, desta vez meneando a cabeça.
-Isso não aprendi no manual. Veio de fábrica, direto da oficina do capeta. - Sorri e aperta o corpo dela contra o seu.
-Aquele motel ali é bom? - Ela pergunta indicando com a cabeça e sorrindo sugestivamente.
-Era, mas faz tempo que não vou lá. No seu carro ou no meu? - Outro sorriso, agora descaradamente convidativo.
-Ai, ai... - Diz sorrindo e completa: Cada um no seu. Vem atrás.


Agradecimentos à amiga Célia pelo empréstimo da sua famosa, divertida e insubstituível expressão "oficina do capeta".

11 comentários:

Unknown disse...

Adoooorei! ;-)
Bjos

Anônimo disse...

huahuahua...muito boa a estréia da série. Aguardo novos contos para edição completa no fim do ano...Até lá nossos manuais com dicas diretas da "oficina do capeta" estarão completos...!! Material vc sabe, pelo bem ou pelo mal,nunca falta...beijosss

Anônimo disse...

Oficina do capeta???? ...rs. Vou aguardar ansiosa pelo próximo. Como é bom vir aqui e saber que não desistiu de escrever! E encontrar dois posts novinhos!!! Que bom! Beijos!

Anônimo disse...

ê, laiá... sonia marini em sua versão "encapetada". sei não, mas será que canalhice é parte imprescindível do kit dos machos que verdadeiramente devotam suas fêmeas? que venha o próximo conto, então. 1 beijo.

Sônia Marini disse...

Si
Valeu pela visita! Bjos

Sônia Marini disse...

Célia
Ahhh material não falta mesmo! rs
beijos

Sônia Marini disse...

Marcos
Eu espero, sincera e ardorosamente que não!rs Bjo

Sônia Marini disse...

Sueli
Su, desistir de escrever não está entre as opções disponíveis. Posso até desistir do blog, mas de escrever... nunca.Bjos

Elcio disse...

Riobaldo ficaria todo arrepiado ao saber de mais esse capeta andando a solta por ai, fora dos seus sertoes...rss
Gostei mt do conto.
Prende a atençao mesmo.
Parabens.
É isso ai

Sônia Marini disse...

Elcio
Bom saber que se divertiu com o conto. Volte sempre. É sempre um prazer fazer novos contatos entre os que apreciam a leitura e a escrita.
Abraços

Sônia Marini disse...

Lúcia
Grata pela visita.
abraços